O efeito terapêutico da Cidadania
Da Redação
Imagens: CETAD Observa /
Matias Romero (respectivamente)
O pintor Adroaldo*, de 48 anos, é mais um entre milhares de trabalhadores que consomem drogas em Salvador. Ele começou a usar maconha aos treze e, desde então, vem conciliando esta experiência com sua vida profissional e social, driblando as expectativas de morte e criminalidade, frequentemente apontadas para aqueles que fazem uso de substâncias, sobretudo as ilícitas.
Após algumas internações em centros de recuperação e um tratamento no CAPS AD Pernambués, Adroaldo atualmente frequenta o CAPS AD Gey Espinheira, onde integra o processo de formação da primeira associação de baianos que consomem álcool e/ou outras drogas, juntamente com outros homens e mulheres jovens, idosos, trabalhadores, desempregados.
Somos Todos Iguais
Com o lema "Somos Todos Iguais", a associação realizou a sua primeira reunião há duas semanas, na qual participaram os usuários dos CAPS Gey Espinheira e Pernambués, além de integrantes do Coletivo Ganja Livre, da Associação Brasileira de Estudos Sociais do Uso de Psicoativos (ABESUP) e da Associação Metamorfose Ambulante (AMEA).
O diretor da AMEA, Sérgio Pinho, destacou a importância do se organizar para a conquista da cidadania que todos, usuários de drogas ou não, têm direito.
Violando regras
Adroaldo afirma que, apesar do uso de drogas não ser algo novo, a maioria dos usuários desconhecem seus direitos e deveres enquanto cidadãos. "Eu me via como alguém que estava permanentemente violando regras, só por usar drogas", explicou.
Sua visão mudou radicalmente em 2005, após um curso sobre cidadania e direitos dos usuários de Drogas, do qual participou como usuário do CAPS AD Pernambués. "Depois do curso, encontrei um motivo para continuar o tratamento. A cidadania entrou nas minhas veias".
Potencial X Preconceito
Para ele e para os outros presentes, o CAPS AD é um serviço fundamental para o tratamento e ressocialização das pessoas que são dependentes químicas. "O CAPS reconhece o nosso potencial enquanto pessoa e nos coloca pra frente, pra ver outras coisas que a vida oferece", explica.
Potencial este que o estigma e o preconceito não permitem à sociedade enxergar. "Se a galera tiver o suporte aqui fora que tem lá dentro do CAPS para desenvolver sua vocação, haverá reintegração".
Definidas as duas frentes de atuação - o combate ao preconceito e o garantia de funcionamento dos CAPS -, Adroaldo crê que a associação possa efetivamente contribuir para melhorar a qualidade de vida dos usuários que necessitam de apoio. "Se conseguirmos fazer valer o bom funcionamento do serviços de saúde...é um passo de cada vez".
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O nome do entrevistado foi alterado em respeito à sua privacidade.