Estudo de comorbidades psiquiátricas entre adolescentes com transtornos por uso de substâncias psicoativas atendidos em um hospital universitário
por MORIHISA, Rogério Shigueo em
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Muitos estudos demonstram a associação entre o abuso de drogas em adolescentes e sintomas de baixa auto-estima, depressão, comportamento anti-social, rebeldia, agressividade, criminalidade, delinqüência, evasão e baixo rendimento escolar. Em adolescentes, os transtornos por uso de substâncias psicoativas freqüentemente co-ocorrem com outros transtornos psiquiátricos, sendo o transtorno de conduta e os transtornos de conduta na vida - três ou mais sintomas de transtorno de conduta na vida - as comorbidades mais freqüentemente associadas ao transtorno por uso de substâncias em adolescentes. O objetivo deste estudo é descrever as características dos adolescentes usuários de drogas em tratamento quanto ao padrão de consumo de drogas, conseqüências do uso e comorbidades psiquiátricas presentes, bem como analisar o diagnóstico de transtorno de conduta na vida segundo gênero, idade de início do uso de drogas e tipos de drogas consumidas. Foram avaliados 187 adolescentes. As variáveis estudadas foram: idade de início do uso de drogas e da procura de tratamento, companhia do primeiro uso, tipos de drogas consumidas, envolvimento em atos ilícitos, problemas com a polícia, atraso escolar, comorbidades e transtorno de conduta na vida. O sexo masculino foi mais prevalente do que o feminino (76,5% e 23,5%, respectivamente). A idade média na admissão foi de 15,4 ± 1,4 anos e a idade de primeiro uso foi de 13,7 ± 1,7 anos. A primeira droga ilícita consumida foi a maconha. Aproximadamente 59% deles já haviam praticado algum tipo de roubo alguma vez na vida. Ainda mais, 38,6% dos adolescentes já haviam sido presos e 32,3% possuía história pregressa de tráfico de drogas, 39,0% apresentaram diagnóstico de transtorno por uso de múltiplas substâncias, 24,1% tinham comorbidade com depressão e 9,6% com transtorno de conduta. Quando se inclui os critérios diagnósticos para transtorno de conduta na vida, a prevalência do diagnóstico de transtorno de conduta na população estudada aumenta para 65,2% (intervalo de confiança de 58,4% - 72,0%, com coeficiente de confiança de 95%), sendo que os meninos apresentam uma prevalência maior que as meninas. As médias de idade de início de drogas entre estes adolescentes, bem como os tipos de drogas consumidas não diferem das idades médias da amostra total de todos os adolescentes. Em termos gerais, tabaco, álcool, maconha e cocaína são usados antes do primeiro roubo, do primeiro tráfico e da primeira prisão. Os dados sugerem a necessidade de realizar uma avaliação neuropsiquiátrica detalhada e abrangente antes de considerar o jovem como simplesmente portador de um transtorno de conduta, pois os sintomas deste transtorno podem estar presentes em muitas síndromes psiquiátricas.