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NelsonPretto

A Tarde, 04/09/2007, página 03.

Invencionices

Nelson Pretto - Diretor da Faculdade de Educação da UFBA - www.pretto.info

Um som dissonante sai de uma cabaça amarrada em um arame. Um treco estranho, pendurado no alto, parece uma asa a imitar o belo vôo dos pássaros.

Uma bicicleta faz acender uma lâmpada. A meninada em volta de cada uma dessas e de tantas outras peças, espalhadas por exposições em Salvador, olha cada artefato e faz música, estripulias e invencionices. “Ah! Eu faria melhor. A asa ficou muito pequena, e o vento escapole pelos lados”, diz um. “Ah, se ligasse aqui um motor e uma cabaça, saía som”, diz outro.

Essas exposições, que unem ciência, tecnologia e arte, juntam coisas belas e sinalizam à juventude que a formação científica e artística vai além da sala de aula. E, para que isso se concretize, precisamos de políticas públicas que articulem esses campos em ações corajosas, envolvendo meninos, professores e cientistas. Essas exposições (Smetak, Da Vinci e Energia) me levam ao passado. Quando ainda no colegial (como era chamado o atual ensino médio, que mudou de nome mas não mudou de tom!), reparava um senhor numa velha BMW, indo da Federação para o Canela, onde, na Escola de Música, ia fazer as invencionices que hoje estão expostas no MAM, numa exposição fenomenal.

Da Escola de Música – lamentavelmente, hoje em situação que nos causa grande tristeza! –, ele saía para a Reitoria, para os concertos de segunda à noite, onde também estávamos. Já professor de física, levava meus alunos ao Museu de Ciência e Tecnologia, em Pituaçu, que a ignorância dos governos deixou ser destruído por ser obra “do governo passado”. Hoje, sem público e sem invenções, não pode mais contribuir para a formação científica dos jovens.

Estará em situação igual o Observatório Astronômico de Antares, em Feira? Apoiar essas iniciativas é importante, ao mesmo tempo que precisamos implantar, em toda a Bahia, museus e espaços que articulem intensamente educação, ciência, tecnologia e arte, criando um rico ambiente de formação e de turismo. Passear por essas exposições e ouvir os curiosos comentários dos meninos é de uma alegria indescritível. Como eles inventam, buscam mais informações e tentam articular com o que lhes foi ensinado na escola! Fico pensando nas possibilidades criativas de nossa juventude, que constrói um carrinho para vender cafezinho com uma estética invejável, com articulações que funcionam perfeitamente e na invenção fabulosa de um pedaço de pau com um parafuso na ponta, usada como abridor de garrafa.

Imagino, então, as secretarias de Estado apoiando as universidades em programas de incentivo às invenções dessa meninada, criando-se um banco de invencionices que, depois, poderiam ser viabilizadas e, quem sabe, tornarem-se novas tecnologias a serem aplicadas aqui e acolá.

No MAM, Smetak é apresentado como aquele que “em busca de novas faculdades de percepção, cruzou fronteiras físicas, estéticas, místicas e musicais”.

Cruzar fronteiras e muitas invencionices pode ser um bom começo.


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-- NelsonPretto - 04 Sep 2007


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