Uso de solventes por crianças e adolescentes em situação de rua no Distrito Federal
por NASCIMENTO, Amanda do em
« Voltar
A precariedade de acesso aos bens materiais e imateriais nas periferias faz com que centenas de famílias cheguem à Brasília todos os anos. Nesse cenário, crianças e adolescentes são expostos a uma série de riscos à sua saúde e bem-estar, inclusive o uso de drogas. O uso de solventes é o mais preocupante nessa população, tanto devido ao seu amplo consumo, quanto devido aos danos à saúde e sociais relacionados ao seu uso. O objetivo deste trabalho foi avaliar os fatores associados ao uso de solventes pelas crianças e adolescentes em situação de rua no Distrito Federal. Foram realizados estudo quantitativo e qualitativo, através da aplicação de questionários estruturados e entrevistas abertas, respectivamente, aos jovens em situação de rua. Cento e trinta e dois jovens participaram do estudo quantitativo e destes, sete participaram das entrevistas abertas. O período de coleta de dados perdurou quinze meses, de agosto de 2006 a novembro de 2007. Foi utilizada a análise do discurso crítica como ferramenta, por conter em seu arcabouço de análise noções de ideologia e poder na pósmodernidade; portanto contextualizando a percepção dos jovens ao risco que estão expostos inseridos no espaço de vulnerabilidade, exclusão e volatilidade marcantes na pósmodernidade. Os solventes foram as drogas de maior prevalência entre os indivíduos do estudo. O uso dessa substância está relacionado aos jovens desacompanhados dos pais, principalmente a mãe, do sexo masculino e ausentes da escola; das crianças que não freqüentavam a escola 84 % eram usuários de solventes. Foi observado que a prevalência de usuários de solventes do sexo masculino foi quase 20% maior do que a prevalência de meninas usuárias de solventes e que os meninos têm duas vezes mais chances de serem usuários de solventes do que as meninas. Os jovens acompanhados das mães iniciam sua jornada nas ruas mais cedo, porém o seu nível de envolvimento com as ruas é menor. Em comparação com os diferentes tipos de acompanhantes nas ruas, a presença da mãe foi a única relevante para o não uso de solventes. Porém, em avaliação qualitativa a família tem papel antagônico, ora protetor, ora facilitador, na vida dos jovens com relação ao uso de drogas, em especial solventes. A percepção dos riscos pessoais parece ter maior influência na proteção dos meninos ao uso de solventes, principalmente as experiências relacionadas com a família. Embora os jovens percebam os riscos relacionados a situação de rua, estes não estão associados ao uso de solventes.